Eu tenho vinte e três, ele dezenove.
Eu estou com o coração partido, ele ainda não sabe o que é ter coração.
Eu tenho a vida corrida, ele corre na praia.
Meu tempo se esvai, o dele é suficiente.
Tenho os olhos cansados, os dele são verdes.
Tenho estado sozinha, ele rodeado de pessoas.
Eu estava contemplando o mar, ele me contemplando.
Disse que gosta do meu olhar "agateado",
E eu disse que não sei o que isso significa.
Ele me diz que tenho o olho de gatinho, falou assim,
olhinho de china e sorriu.
Eu disse que o sorriso dele é contagiante,
e ele perguntou por que eu não sorri, então.
Eu saí da praia, ele mora lá.
Me disse que posso encontrá-lo sempre que precisar ser contagiada por sorrisos.
Então, eu sorri e fui.
Ele ficou.
Seu cheiro de juventude ficou em mim,
dobrei a esquina e ele me olhava, eu fingia não mais vê-lo.
Então, ele veio até mim, enquanto eu apressava meus passos.
Perguntou meu nome, eu disse que poderia me chamar de tristeza.
O dele é alegria, eu sei, nem perguntei...
Pediu que eu ficasse mais um pouco, neguei seu pedido.
Quando subi naquele ônibus e o vi me olhando,
tive vontade de descer e dizer que precisava ali, agora, ser contagiada,
mas, meus vinte três anos pesaram, decididamente,
procurei um lugar agradável e sentei-me,
sem esperanças, alegria ou tristeza.
Eu fui, ele ficou.