Em cima da cama, meu vestido novo, olhei-me no espelho e vi-me bonita. Os cabelos ainda molhados emolduravam meu rosto tão sereno e tranquilo. Sem pensar, coloquei o vestido, a sandália prata e um vinho na geladeira. Zelei para que tudo ficasse perfeito quando você chegasse, varri as raízes das tulipas, escondi as olheiras do meu rosto, pus um blues para tocar. Vesti-me de um perfume delicado e envolvente, abri a janela para que meu cheiro te buscasse onde quer que você estivesse. As horas passavam e aqui chegava toda sorte de gente, conversavam alto, pisavam as surpresas que plantei para você, ocupavam o espaço que te reservei...
Calmamente fui até meu quarto e novamente banhei-me de perfume, coração acelerado parecia dizer que aquela campainha tocando trazia você atrás da porta; corri e numa desesperada oração benzi-me olhando para o céu. Abri a porta de olhos fechados e sorriso aberto: tudo em vão. Atrás da porta tinham apenas cartas para os desconhecidos da sala. Tranquei-me no quarto ao lado e chorei até desfazer a máscara alegre que cobria meu rosto. Voltei ao meu quarto, despi-me vagarosamente das esperanças, dos sonhos, das ilusões, e numa tentativa de provar a mim mesma que tudo havia acabado, joguei contra a parede o perfume que me envolvia. Ficamos no chão, partidos em mil pedaços, agonizamos eu e os cacos, eu estou um caco; no chão fundi-me ao cheiro irritantemente forte, aos pedaços de mim e do meu coração de vidro que se quebrou.
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